UNIVERSIDADE ESTADUAL DO MARANHÃO-
UEMA
CENTRO DE ESTUDOS SUPERIORES DE
CAXIAS- CESC
DEPARTAMENTO DE LETRAS.
CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM
LITERATURA E ENSINO.
DISCIPLINA: LITERATURA COMPARADA
MINISTRANTE: PROFª Me. RITA DE
CÁSSIA BARROS ASSUNÇÃO
ANÁLISE COMPARATIVA ENTRE POEMAS “VOZES-MULHERES”
DE CONCEIÇÃO EVARISTO E “CERIMÔNIA DE PASSAGEM” DE PAULA
TAVARES.
Francisca Lucilene Santos da Silva
CAXIAS-MA
2013
- INTRODUÇÃO
Literatura Comparada é
o ramo da Teoria Literária que estuda, através de comparação, a literatura de
dois ou mais grupos linguísticos, culturais ou nacionais, diferentes; incidindo
o seu foco especificamente não tanto na comparação da literatura em si, mas com
maior ênfase nas respectivas teorias da literatura. A Literatura Comparada é
uma abordagem multidisciplinar que consiste nos estudos comparativos das
literaturas de diferentes áreas linguísticas, bem como as diferentes mídias e
tipos de arte. O comparatista pode se interessar pelas literaturas nacionais,
assim como pela música, pela pintura e pelo cinema, por exemplo.
As origens daLieratura
Comparada se confundem com as da literatura, por isso, muitas são as tentativas
ao longo dos anos de defini-la assim como seu objeto de estudo. Dentre os que
tentaram fazer isso estão Philaréte Chasles, Paul Van Tieghem, Hennry H. H. Remak, Wellek, Durisin, Adriano Marino entre outros. O ponto
de partida na tentativa de compreender o objeto de estudo da literatura
comparada, foi a obra de Paul Van Tieghem intitulada La littérature comparée,
publicada em 1931, onde o conceito de literatura comparada, se explicita como
disciplina que se situa entre a história literária de ama nação e a historia
geral, portanto e uma disciplina independente com seus próprios métodos.
Hennry H. H. Remak, no seu artigo “Comparative
Literature, Its Definicion and funcion”, definiu Literatura Comparada dessa
forma:Literatura comparada é o estudo da literatura, além das fronteiras de
país particular, e estudo das relações entre literatura, de um lado, e outras
áreas de conhecimento, e da crença, tais como as artes ( ex: pintura,
escultura, arquitetura, música), filosofia, história, ciências sociais,
religião etc., Em suma, é a comparação de uma literatura com a outra ou outras,
e a comparação da literatura com outras esferas da expressão humana(
Remak,1971,p1 apud Nitrini)
A legitimidade e
alcance humano da literatura comparada se fez na voz de Munteano, em “situation
de la littératura comparée. As portée humamaine et légitmité”, par ale são três s vias
responsáveis pela comunicação entre os pólos individual ( emissor) e
universal ( receptor),
para este estudioso a dificuldade
para a literatura comparada não está em demonstrar sua legitimidade mas
em determinar seus limites, numa linha
humanista dos estudos literários.
Adrian Marino, em ”Comparattisme et théorie de
la littérature”, tem como ideia principal converter a literatura comparada em teoria,
baseando-se em três aspectos: a renovação do conceito de literatura
universal, a dissociação do comparatismo da ideia de comparação e visão
global do conceito de literatura(histórica, morfológica e teórica).Marino não
consegue resolver a crise da literatura
comparada e não consegue defini-la, deixando espaço para críticas posterior. No
final do século XX se inaugurou uma nova fase da história literária, quando se
observou uma preocupação com a identidade cultural nacional, inaugurando uma
nova fase da literatura comparada, os países do chamado terceiro mundo começam
a questionar o cãnon dos grandes escritores europeus, inaugurando a literatura
pós-colonial, onde os fatores históricos, sociais e econômicos foram levados em
consideração, isto é houve uma valorização da cultura nacional.
A teoria da
intertextualidade apareceu dentro do contexto de renovação dos estudos de
literatura comparada, esta teoria concebida por júlia Kristeva trata da
presença de um texto dentro do outro , pois:
“A intertextualidade se insere numa teoria
totalizante do texto, englobando suas relações com o sujeito, o inconsciente e
a ideologia, numa perspectiva semiótica”(...). “Todo texto se constrói como
mosaico de citações, todo texto é absorção e transformação de outro texto. Em
lugar de noção de intersubjetividade, instala-se o da intertextualidade e a
linguagem poética”. (Kristeva,1969).
Como se pode notar há
uma situação de ambivalência implicando a inserção da história e da sociedade
no texto e do texto na história, isto é uma relação estrita com o sujeito.
Sendo assim a diferença entre influência e intertextualidade é que a primeira
está relacionada com o individual e a segunda com o coletivo (social), não
tendo “nada haver o intertexto com o velho conceito de influência”. Em suma o
conceito de intertextualidade derruba o conceito de influência, por se
apresentar como um sistema de trocas. Antes, a L iteratura Comparada fazia comparações e distinção
implícita entre “literaturas maiores” e “literaturas menores”, sendo as
primeiras as que, funcionariam como verdadeiro modelo para as segundas num
contexto de cada nação se fechava dentro de si mesma.
Hoje o campo de atuação da Literatura Comprada é altamente diversificado:
por exemplo, comparatistas frequentemente estudam literatura chinesa, árabe e
de grandes línguas mundiais e de outras regiões, assim como o fazem com o Inglês
e as literaturas européias. Há marcas em muitas partes do mundo de que a
disciplina vem prosperando, especialmente na Ásia, na América Latina e no
Mediterrâneo. As atuais tendências da Literatura Comparada também refletem a
crescente importância dos estudos culturais nos campos da literatura, fazendo
refletir sobre a tomada de consciência do caráter histórico, teórico e cultural
do fenômeno literário.
- IDENTIDADE NEGRA
Antes de falar da identidade negra propriamente dita vale resaltar o
conceito de identidade definida pelo o Dicionário Houaiss, como o “Conjunto das caracteristicas próprias ou
exclusivas de um indivíduo; consciência da própria personalidade; o que faz que
uma coisa seja da mesma natureza que outra.”.
Como se pode notar a identidade
está sempre relacionada à ideia de alteridade, ou seja, é necessário existir o
outro e seus caracteres para definir por comparação e diferença com os caracteres
pelos quais me identifico, o que permite considerar as pessoas como agentes
sociais capazes de operar e construir sua cultura, modificando-a e
transformando a si mesmo de acordo com seus valores e com interesses políticos.
A identidade permite
uma discussão na qual se priorizem as particularidades do contexto social e
cultural, buscando evidenciar a maneira, de eles (os negros) se auto afirmarem
, possibilitando refletir sobre os vários determinantes de natureza pessoal e
de natureza coletiva que influenciam no processo de autoafirmação ou de negação
da identidade negra, evidenciando os aspectos importantes para suas
autoafirmações, como o cabelo, o formato
do nariz e a corda pele.
Ser negro não limita numa
visão metafísica ou essencialista, ser negro é uma questão de identidade social
e cultural de maneira dinâmica em relação à raça. A identidade negra se faz de
acordo com as características históricas e sociais se tornando inteligível
dentro do seu contexto cultural, num processo de autoafirmação de se reconhecer
como negro e como ser instituído de personalidade, isto é ter corpo, alma,
antepassado, nome sobrenome e bens próprios.
Historicamente o negro
tem sido esquecido e desvalorizado e na Literatura não foi diferente só agora o
negro vem se consolidando como temática em nossas Letras (Literaturas). A maioria dos escritores não falava deles em
suas obras e quando o mencionavam era de maneira pejorativa, desvinculado de seu
valor intrínseco como pessoa. A voz do negro dentro da literatura é muito
importante, pois só eles podem falar de si com um olhar de quem realmente
sofreu na pele tantos anos de descaso e através desse instrumento denunciar
suas angústias, lamentos, o que foram e o que são renovando suas esperanças no
que tange ao respeito e a igualdade por meio de suas próprias metáforas.
- AS AUTORAS
v Conceição
Evaristo
Maria da Conceição
Evaristo de Brito nasceu em Belo Horizonte, MG numa favela da zona sul, em 1946
e desde 1973 reside no Rio de Janeiro. Teve que conciliar os estudos com o
trabalho como empregada doméstica, até concluir o curso normal em 1971, aos 25
anos. Hoje é formada em Português e Literatura pela UFRJ, é mestre em
Literatura Brasileira pela PUC/RJ e
doutora em Literatura Comparada pela Universidade Federal Fluminense. Na década
de 1980, entrou em contato com o grupo Quilombhoje. Estreou na literatura em
1990, com obras publicadas na série Cadernos Negros, publicada pela
organização. Suas obras, em especial o romance Ponciá Vivêncio, de 2003,
abordam temas como a discriminação racial, de gênero e de classe. Esta obra foi
traduzida para o inglês e publicada nos estados unidos em 2007. Tendo sido
exposta desde pequena às crueldades do racismo, Conceição tornou-se uma
escritora negra de projeção internacional, além de uma militante que atua dentro
e fora dos marcos da academia.
Obras:
Romance
- Ponciá Vivêncio (20030);
- Becos da Memória (20060);
Poesia
- Poemas da Recordação e outros movimentos (2008);
Contos
- Insubmissa lágrimas de mulher (Nandyala,2011);
Participação em antologias
- Cadernos Negros (Quilombhoje, 1990);
- Contos Afros (Quilombhoje);
- Contos do Mar sem fim (editora Pallas);
- Questão de Pele (Língua Geral);
- Schwarze Prosa (Alemanha.1993);
- Moving beyond boudaries: internacional dimension of black women’s writing 91995);
- Women ringhting- Afro-brazilian women’s Short Fiction (Inglaterra,2005);
- Finally Us: Contemporary black Brazilian women writers (1995);
- Callooo, vols. 18 e 30 91995, 2008);
- Fourteen female voices from Brazil (EUA, 2002), Estados Unidos;
- Chimurenga People (África do Sul, 2007);
- Brasia-Àfrica: como se omar fosse mentira ( Brasil/ Angola, 2006);
- O negro em versos (2005).
v Paula
Tavares
A
poetisa Ana Paula Ribeiro Tavares, nasceu em Lubango, província da Huília,
Angola, em 30 de outubro de 1952. Iniciou seu curso de história na Faculdade de
Letras do Lubango (hoje ISCED- Instituto Superior de Ciências da Educação-
Lubango) terminando-o em Lisboa. Em 1996 concluiu o Mestrado em literaturas
Africanas. Atualmente vive em Portugal. Ana Paula Tavares é a única poetisa
contemporânea do período pós-independência angolana. Sempre trabalhou na área
da cultura, museologia, arqueologia e etnologia, patrimônio, animação cultural
e ensino. Foi delegada da cultura no Kwanza Norte, técnica do Centro nacional
de Documentação e Investigação (hoje Arquivo Histórico Nacional) do Instituto
do patrimônio Cultural. Foi membro do júri do Prêmio Nacional de Literatura de
Angola nos anos de 1988 a 1990 e responsável pelo Gabinete de Investigação do
Centro Nacional de Documentação e investigação Histórica em Luanda, de 1983 a
1985. È também membro de diversas organizações Culturais como o Comitê Angolano
do Conselho Internacional de Monumentos e Sítios (ICOMOS), da Comissão Angolana
para a UNESCO.
Obras
Poesias
· Ritos
de passagem (1985);
· O
Lago da Lua (1999);
· Dizes-me
Coisas amargas (2001);
· Manual
para Amantes Desesperados (2007);
Prosa
· Sangue
de Buganvília: crônica (1998);
· A
Cabeça de Salomé (2004);
Romance
· Os
O olhos do homem que chorava no rio, em coautoria com Manuel Jorge Marmelo
(2005).
·
ANÁLISE COMPARATIVA ENTRE POEMAS
“VOZES-MULHERES” DE CONCEIÇÃO EVARISTO E “CERIMÔNIA DE PASSAGEM” DE PAULA
TAVARES.
Vozes-mulheres
Conceição Evaristo
A voz de minha bisavó ecoou
criança
nos porões do navio.
Ecoou lamentos
De uma infância perdida.
criança
nos porões do navio.
Ecoou lamentos
De uma infância perdida.
A voz de minha avó
ecoou obediência
aos brancos-donos de tudo.
ecoou obediência
aos brancos-donos de tudo.
A voz de minha mãe
ecoou baixinho revolta
No fundo das cozinhas alheias
debaixo das trouxas
roupagens sujas dos brancos
pelo caminho empoeirado
rumo à favela.
ecoou baixinho revolta
No fundo das cozinhas alheias
debaixo das trouxas
roupagens sujas dos brancos
pelo caminho empoeirado
rumo à favela.
A minha voz ainda
ecoa versos perplexos
com rimas de sangue
ecoa versos perplexos
com rimas de sangue
e
fome.
fome.
A voz de minha filha
recorre todas as nossas vozes
recolhe em si
as vozes mudas caladas
engasgadas nas gargantas.
recorre todas as nossas vozes
recolhe em si
as vozes mudas caladas
engasgadas nas gargantas.
A voz de minha filha
recolhe em si
a fala e o ato.
O ontem - o hoje - o agora.
Na voz de minha filha
se fará ouvir a ressonância
o eco da vida-liberdade.
recolhe em si
a fala e o ato.
O ontem - o hoje - o agora.
Na voz de minha filha
se fará ouvir a ressonância
o eco da vida-liberdade.
In
Cadernos Negros, vol. 13, São Paulo, 1990.
Cerimônia
de Passagem: Ana Paula Tavares
“a zebra feriu-se na pedra
a pedra produziu lume”
a pedra produziu lume”
a rapariga provou o sangue
o sangue deu fruto
o sangue deu fruto
a mulher semeou o campo
o campo amadureceu o vinho
o campo amadureceu o vinho
o homem bebeu o vinho
o vinho cresceu o canto
o vinho cresceu o canto
o velho começou o círculo
o círculo fechou o princípio
o círculo fechou o princípio
“a zebra feriu-se na pedra
a pedra produziu lume”
a pedra produziu lume”
Do livro: "Ritos de
Passagem", Cadernos Lavra e Oficina, 1985.
Os dois poemas que serão
analisados versam sobre mulheres negras, o primeiro num contexto
histórico-social e o segundo fala sobre a sexualidade. Vozes-mulheres é o eco do passado transgressor em que viveu o povo
negro, Cerimônia de passagem retrata
os rituais de passagem no deste poema a passagem da adolescência para a fase
adulta de uma mulher africana.
O título do poema vozes-mulheres evoca dois elementos: a
voz e a mulher, esta voz qualificada que fala por toda uma categoria insatisfeita.
Os três primeiros versos da
primeira estrofe sintetizam um passado sofrido, denunciado na voz de uma mulher
negra, o sofrimento nos navios negreiros provocado pela diáspora dos povos
africanos trazidos para o Brasil na condição de escravos, isso é contado de
maneira introspectiva, isto é numa perspectiva de dentro “Minha bisavó”. O verbo “ecoou” denuncia a marca de um tempo passado
de desrespeito, alongando o tempo de dor e que permanece vivo no pensamento das
gerações futuras que certamente também tiveram suas infâncias perdidas,
manchadas pelo preconceito aos afrodescendentes.
Na segunda estofe o sofrimento
continua em geração em geração “Na voz de
minha avó”, que vive só para obedecer sem direito de se expressar, vivendo
nas senzalas ou como mucamas nas casas grandes, tratadas como objetos ou
animais, como se não tivessem alma ou sentimentos.
Os versos da terceira estrofe
apresenta uma mulher, que de certa forma teve o mesmo destino de sua mãe e de
sua avó “A voz de minha mãe ecoou
baixinho revolta”, “No fundo das cozinhas alheias”, “debaixo das trouxas”, “rumo à favela.”. O que sobrou para os descendentes dos negros
foi os piores trabalhos, foi lavar a sujeira dos brancos e depois ficaram sem
espaço depois da abolição, fugindo para os morros , fixando-se por lá ,
explicando porque a maioria dos moradores de Comunidades são negros.
A quarta estrofe já é presente, a
voz poética se apresenta inconformada com o sofrimento que até hoje os negros
passam, vivendo em condições adversas como seus antepassados, mas isso não é
motivo para que seu grito seja calado “A
minha voz ainda” / “ecoa versos perplexos”, “com rimas de sangue” / “e”/ “fome”,
sendo isso motivo de força para denunciar através dos versos essa vergonha
social.
O futuro chegou,na quinta
estrofe, com doze versos, o eu lírico apresenta
a filha narrando não só o presente, mas o que ainda está por vir, Nos primeiros
versos A voz de minha filha/ recorre
todas as nossas vozes/ recolhe em si/ as
vozes mudas caladas/ engasgadas nas gargantas/ . A voz da filha guarda
todas as vozes, numa tentativa de remediar um passado de dor e opressão. Nos
versos Na voz de minha filha / se fará ouvir a ressonância
/ o eco da vida-liberdade, percebe-se
uma esperança de um futuro promissor quando todos os homens e mulheres serão
respeitados, sem distinção de raça como fala a canção inutilizada
A Cor do
Homem de Milton
Nascimento e Fernando Brandt:
Mas
como pode um homem
Escravizar outro homem?
O homem negro não é melhor
Que o homem branco, nem pior
A pele branca não é pior
Que a vermelha, nem melhor.
A pele negra, branca, vermelha,
amarela.
É apenas a roupa que veste um
homem
-animal! Nascido
do amor
Criado para pensar,
sonhar e fazer
Outros
homens com amor.
O poema adquire
um tom profético ao usar no futuro o verbo se fará
ouvir, ascendendo para um futuro bem melhor respaldado num passado de sangue
e suor, vislumbrando um futuro digno com muita esperança.
O poema Cerimônia de passagem é a voz do corpo
de uma mulher negra, na passagem da adolescência para a idade adulta. Na África,
o sexo era tido como propósito para a procriação, não admitindo que a mulher
fosse capaz de ter seus desejos sexuais considerados nesta sociedade
falocêntrica. Este poema representa o grito de liberdade das mulheres no que
diz respeito ao erotismo. O sexo sempre foi assunto tratado com tabu, aqui a
mulher descobre o amor e o prazer, como na sociedade patriarcal a mulher sempre
sofre preconceito, seja no trabalho, nas artes ou nas ciências com a
sexualidade não é diferente e se essa mulher for negra então a coisa piora.
Paula Tavares olhou de uma maneira feminista para este assunto, apesar de não
ser negra soube falar muito bem sobre a temática erótica ressaltando que o
desejo sexual do sujeito é intrínseco e ligado a sua identidade no caso a
identidade negra. Cerimônia de passagem é
um poema que valoriza o sensorial, representando a mulher dentro da tradição
angolana, mediante uma nova visão erotizada da mulher, tradicionalmente
silenciada na sua condição sexual, este poema enfoca a subjetividade, as
frustações, as alegrias e dores femininas.
A primeira estrofe do
poema “a zebra feriu-se na pedra / a pedra produziu lume”, faz referência ao sangue da primeira menstruação
“feriu-se”, representando
que a mulher já está pronta para o sexo e para reproduzir “lume” metaforizando
o fogo, o fulgor do sexo. No trecho “a
rapariga provou o sangue/o sangue deu fruto”, sugere que essa menina além
de menstruar, teve sua primeira relação sexual e gerou um filho juntamente com
o homem que provou seu vinho (sexo), como se pode notar em ” a mulher semeou o campo /o campo amadureceu
o vinho o homem bebeu o
vinho / o vinho cresceu o canto”. Na quinta e na sexta estrofes ocorre uma
visão cíclica da vida, um retorno, as coisas se repetem, é um ciclo , pois há
sempre uma certa repetição no campo dos sentimentos ,das ideias, dos
acontecimentos em geral, numa repetição constante “o velho começou o círculo /o círculo fechou o princípio/ “a zebra feriu-se na pedra/
a pedra produziu lume”, aqui a mulher revive tudo que ela já viveu, isso se confirma na retomada da primeira estrofe ao final do poema. No poema Cerimônia de passagem ocorre o resgate das tradições e dos valores africanos, denunciando o processo de funcionamento sexista presentes em muitas dessas tradições, silenciando as particularidades, angústias e sonhos das mulheres africanas.
a pedra produziu lume”, aqui a mulher revive tudo que ela já viveu, isso se confirma na retomada da primeira estrofe ao final do poema. No poema Cerimônia de passagem ocorre o resgate das tradições e dos valores africanos, denunciando o processo de funcionamento sexista presentes em muitas dessas tradições, silenciando as particularidades, angústias e sonhos das mulheres africanas.
Os poemas analisados demonstram
as resistências encontradas pela mulher, sobretudo a mulher negra. Hoje sesse
cenário vem mudando, são muitas as mulheres e mulheres negras que se destacam
no Brasil e no mundo em todos os campos do conhecimento. Na literatura elas
também ganharam seu papel de destaque, mas ainda existe uma porção de negras
supertalentosas que produz uma excelente poesia meio escondidinha, editando-as
em pequenas tiragens embaçadas por um mundo branco e preconceituoso.
REFERÊNCIAS
FERRREIRA, Aurélio Buarque de
Holanda, Miniaurélio Século XXI Escolar: o minidicionário da língua portuguesa;
coordenação de edição, Margarida dos Anjos, Marina Baird Ferreira;
lexicografia, Margarida dos Anjos...[et al.]. 4. Ed.rev. ampliada. - Rio de
Janeiro; nova Fronteira, 2001.
Gênero e representação na literatura brasileira: ensaios/ Constância lima Duarte; Eduardo de Assis; Kátia da
Costa Bezerra (org.). -Belo Horizonte: Pós-graduação em Letras Estudos
Literários: UFMG, 2002.
O negro em veros: antologia
da poesia negra brasileira: Luiz Carlos dos Santos: Maria Galas; Ulisses
Tavares (org.). São Paulo: Moderna. 1ª ed.2005.
NITRINI, Sandra. Literatura
Comparada. São Paulo: Edusp. 1997.
SALIBA, Marco. Minimanual de
Pesquisa: interpretação de texto/ redação. Uberlândia- MG: Claranto. 2ª ed.2004
<
http://www.cchla.ufrn.br/saberes>
<htt://.pt.wikipedia.org/wiki/Ana_Paul_Tavares>
<http://www.uel.br/pos/letras/terraroxa>
<http://blogueirasfeminista.com/2011/11/conceico-evaristo/>
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